Wednesday, January 16, 2008

53ª questão - Design é uma questão de gosto?

Trecho do livro "The Design Experience":

Alguns anos atrás estávamos em um debate ao vivo no rádio com o diretor de uma indústria de cerâmicas, que tratava da má-vontade dessa empresa em adotar um design mais contemporâneo. Defendendo a confiança de sua empresa em desenhos com mais de um século de idade, o diretor finalmente afirmou: “Mas, no final do dia, design é uma questão de gosto pessoal”. A empresa em questão entrou recentemente em concordata. Em certo sentido, o diretor tinha razão. A política de design do Reino Unido se fundou historicamente na missão de “elevar” o gosto do mercado de massas, com os Design Councils tendo como missão básica a definição dos padrões do “bom design”. E essa busca apostólica das “classes médias cultas” não se harmonizava com os industrialistas e seus aliados. Em 1951 o Tesouro enviou um relatório recomendando o fechamento do Design Council, já que não via futuro para o “bom gosto”.

Segundo o relatório “Parece que quanto pior o design de um objeto, mais ele vende no mercado externo. Cachorrinhos de porcelana tipo china aparentemente são muito populares no exterior”.
Se a missão do modernismo era quebrar os cachorrinhos de porcelana e tudo que eles representavam, a preocupação do pós-modernismo era ter mais e mais variados cachorrinhos, preferivelmente de plástico e manufaturados na China. Globalização, diversidade e escolha do consumidor substituíram os questionáveis princípios do “bom gosto”, com os Design Councils desde então abandonando seu papel de árbitro do gosto. Como sabemos, o gosto é um sistema de distinção e diferenciação que literalmente marca quem nós somos, dando forma a nossa identidade.

O design não é mais uma tentativa de impor um gosto modernista ao mercado de massa, e sim uma questão de compreender os gostos de grupos específicos de consumidores e de dar aos produtos formas e sentimentos que expressem os significados subjacentes a esses gostos. A forma não mais segue a função. A forma segue o significado.
Mirja Kalviainen, da finlandesa Kuopio Academy of Design considera que o processo de design deve incorporar uma compreensão do gosto do consumidor. “O elemento do gosto em objetos de design não deve estar baseado na crença pessoal dos designers. “Atitude de reflexão e abertura para o questionamento dos conceitos pessoais de gosto do designer são fundamentais nos processos de design nos quais o gosto do consumidor é levado em conta”.

Kalviainen propõe três áreas práticas de pesquisa para guiar o designer na compreensão do gosto dos usuários:

1) A estrutura objetiva – Trata das características demográficas do grupo usuário, do contexto de uso e da história do produto nesse contexto.

2) A criação de significados – Aqui o interesse é no significado simbólico no qual são examinadas as histórias de vida dos usuários e as formas pelas quais eles constroem significados a partir dos produtos de consumo.
3) A rede de influências – O universo social do usuário, incluindo os códigos e rituais sociais, regras de interação e influências críticas, é explorado pelo designer.
Em suma, Kalviainen argumenta que a pesquisa empírica no mundo do consumidor, vista através das perspectivas teóricas das ciências sociais que procuram explicar a criação de significados no consumo – e sublinhada por um auto-questionamento e uma reflexão do designer, pode oferecer uma compreensão essencial do gosto do consumidor.

Muitas empresas de consultoria já estão se especializando nessa área de pesquisa. Nos EUA a Image Engineering desenvolveu um método de pesquisa qualitativa que afirma extrair respostas emocionais dos consumidores aos símbolos visuais da marca e do design dos produtos, mapeando assim sua “construção de significados”.
A pesquisa do gosto do consumidor é essencial para o design que almeja se conectar com o universo emocional do consumidor.

O gosto é parte da função “soft” de qualquer produto ou serviço e, como argumentam McDonagh-Philip e Lebbon, “a funcionalidade soft não pode simplesmente ser aplicada a posteriori, como uma camada de verniz. Ela deve ser inerente ao conceito de design. Ela só vai adicionar valor se for emocional e culturalmente significativa para o público-alvo”.

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