Saturday, October 06, 2007

42ª questão - O que o consumo tem a ver com cidadania?

Insistindo mais um pouco em falar de política, descobri um paralelo interessante entre esse assunto e o consumo. O livro "História do consumo no Brasil" do jornalista Alexandre Volpi, apresenta um panorama de como o direito do consumidor é diretamente proporcional a noção de cidadania. Como falar de direitos dos consumidores se os interesses dos cidadãos brasileiros eram ignorados nos primeiros anos de república?


Fiquei surpreso em descobrir que no mesmo ano que o Brasil comemorava a Proclamação da República, surgia em Nova York a primeira associação de defesa dos consumidores americanos. No início do século XX a sociedade americana já se organizava em defesa de seus direitos, principalmente nas leis que regulavam o comércio de alimentos e remédios.

Este fato é significativo para entender a tolerância brasileira em relação aos políticos. Segundo o sociólogo T.H. Marshall há três dimensões fundamentais para o direito que são necessários para o exercício pleno da cidadania: civil, política e social. Com base na experiência inglesa, Marshall sugere que existe uma ordem lógica para o desenvolvimento da cidadania de uma nação. Primeiro vêm os direitos civis, depois os políticos e por último os sociais. Ou seja com a liberdade civil a população reinvidica e conquista seu direito de voto e o governo democrático cria bases para introdução da justiça social.

Pela análise do historiador José Murilo de Carvalho, no Brasil a pirâmide da cidadania ficou de cabeça para baixo. Entre nós o social precedeu os outros. E ter o povo sob controle foi a marca da história político brasileira. Sob esse enfoque até a evolução das conquistas sociais perde seu valor. A antecipação dos direitos sociais fazia que os direitos não fossem vistos como independentes da ação do governo mas sim um favor em troca do qual se deviam gratidão e lealdade.

Talvez eu tenha sido muito otimista mesmo achando que através dos blogs poderíamos mudar o país. O problema é muito mais complexo e estrutural, exigindo uma mudança gradual da sociedade. De qualquer forma, o primeiro passo para mudanças é ter consciência de sua origem e história. Só assim vamos ter esperança de um dia em vez de discutir sobre os absurdos dos políticos, ter orgulho em falar do país que construímos.

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