Wednesday, September 03, 2008

97ª questão - O que medalhas de ouro tem a ver com as escolas?

Tudo bem que as Olimpíadas de Pequim se encerraram há duas semanas, porém só para encerrar esse assunto, vale refletir sobre os resultados do Brasil nesse evento. A posição no quadro geral de medalhas, com o 23º lugar conquistando 3 medalhas de ouro, deixou o Brasil atrás de países como Jamaica, Quênia e Etiópia. Isso me deixou curioso para saber quanto custou cada medalha de ouro, ainda mais que muito dos investimentos em esportes olímpicos envolvem dinheiro público. Descobri que cada ouro para o Brasil custou 400 milhões de reais. Enquanto isso, cada medalha dos EUA custou 32 milhões de reais, lembrando ainda, que o esporte lá é financiado basicamente com dinheiro privado.

A fonte desses números foi o artigo escrito por Gustavo Ioschpe na edição da VEJA de 3 de setembro. Esse é mais um daqueles textos que dão uma certa ponta de inveja. Ele consegue expressar de forma clara e assertiva, diversos pontos de vista sobre a cultura brasileira, principalmente em relação a competitividade. Reproduzo alguns trechos desse artigo com a finalidade de incentivar uma mudança de mentalidade.

"...
Não temos apenas carências materiais a nos complicar a vida: temos uma cultura que abomina a competitividade, desconfia dos vitoriosos e simpatiza com os fracassados. Quando o nadador César Cielo, não por acaso treinado nos EUA, declarou que iria em busca do ouro, o desconforto dos comentaristas televisivos foi audível: muita saliva gasta para deixar bem claro que se tratava de "autoconfiança" e não "arrogância". Porque melhor um bronze humilde do que um ouro arrogante! Se Michael Phelps tivesse nascido no Brasil, seria provavelmente exilado ao declarar a intenção de bater o recorde de medalhas em uma Olimpíada. Só num país de perdedores uma classificação para final olímpica é vista como "garantia de prata", e não uma chance de 50% de ouro. Só no Brasil se ouvem atletas dizendo que o bronze valeu ouro, só aqui se vê um chororô constante e público de favoritos que foram vencidos por seus nervos. Só aqui um atleta como Diego Hypólito, depois de cair sentado em sua competição e ainda ter a pachorra de culpar os céus ("Deus não quis. Deus decidiu isso."), é recebido com festa e escola de samba. Nós nos preocupamos mais em ser campeões morais do que campeões de fato. Valorizamos o esforço mais do que o resultado. Acreditamos que o sofrimento do percurso redime o fracasso da chegada, ao contrário dos países que dão certo, em que o sucesso do resultado é que redime o sofrimento do percurso.

A ojeriza à meritocracia em nossas escolas vem sob a desculpa de que a competitividade pode causar profundos danos à psique das crianças. Um sistema educacional como o chinês, em que os melhores alunos de cada sala são identificados publicamente – em algumas escolas, através do uso de lenços coloridos – e posteriormente transferidos às melhores escolas, desperta em nossos professores os seus instintos mais primitivos. Freqüentemente ouve-se que sistemas assim levam as crianças ao suicídio, depressão etc. É a senha para que criemos uma escola inclusiva, afetiva, que cria seres felizes e éticos. É uma empulhação sem tamanho. A literatura empírica educacional aponta o benefício de o aluno fazer dever de casa e ser avaliado constantemente, por exemplo. Práticas malvistas por nossos professores, porque supostamente significariam acabar com o componente lúdico da infância e, com certeza, roubariam o tempo lúdico do professor. Pior ainda: a suposta escola do afeto e da felicidade produz muito mais miséria, e por período bem mais longo de tempo, do que as agruras de um sistema meritocrático que premia o trabalho. O que é melhor: "sofrer" por algumas horas por dia na infância estudando com afinco e ter uma vida próspera e digna ou passar a juventude em brincadeiras e amargurar toda uma vida na humilhação do analfabetismo, do subemprego e da pobreza? Qual a sociedade que produz menos violência e infelicidade: aquelas em que os alunos brincam ou aquelas em que estudam?..."

Vale a pena pensar nessas questões. Ainda mais quando você tem filhos e é obrigado a decidir que futuro quer proporcionar para eles.

No comments: