Tuesday, April 10, 2007

11ª questão - Como o Walkman pode explicar a diferença entre as culturas ocidentais e orientais?

Além de todos fatores do post anterior que tornaram o Walkman um sucesso econômico, também não podemos esquecer do impacto que esse produto conseguiu como fenômeno cultural. Ele inaugurou uma nova era de aparelhos eletrônicos voltados para satisfazer uma única pessoa.

O curioso é como essa conquista individual foi interpretado em cada cultura. Pesquisando sobre a etimologia de oriente e ocidente, já percebemos a oposição entre elas.
A palavra oriente vem do latim oriens, ‘o sol nascente’, de orior, orire, ‘surgir, tornar-se visível’, palavra da qual nos vem também ‘origem’. A palavra ocidente nos vem do latim occidens, ‘o sol poente’, de occ-cidere, de op, ‘embaixo etc’, e cadere, ‘cair’.

A bem grosso modo, podemos dizer que as duas culturas possuem formas opostas de pensar e estabelecer relações. A cultura ocidental valoriza o indivíduo, destacando seus méritos e desenvolvimento pessoal. Já dentro da cultura oriental, existe uma valorização muito grande do coletivo. O indivíduo é parte de um sistema maior que privilegia o bem em comum.

Dentro desse contexto, a interpretação do Walkman dentro das duas culturas foi totalmente diferente. Na cultura ocidental, o Walkman foi encarado como símbolo do individualismo. Através dele, era possível escolher a música que se quisesse sem precisar dividir com ninguém esse prazer. Já dentro da cultura oriental, a forma de pensar foi inversa. O Walkman servia para escutar música sem precisar incomodar os outros. Dessa forma a questão do prazer individual, vinha depois da aprovação coletiva.

Se um é melhor que o outro é difícil de dizer. Cada um tem seus prós e contras. No Japão muitas vezes me senti meio sufocado pela valorização do coletivo. Assim como da mesma forma, aqui no Brasil também já senti falta das pessoas pensarem mais no bem em comum. No fim das contas, o que vale mesmo é
poder ouvir nossas músicas bregas favoritas sem ninguém saber. Seja aqui ou no Japão.

Thursday, April 05, 2007

10ª questão - O que o sakê tem a ver com invenção do Walkman?

A revista PC World resolveu em 2005, escolher os 50 gadgets que mais marcaram nossas vidas e a história da eletrónica nas últimas cinco décadas. O primeiro lugar da lista é o Walkman inventado em 1979 pela Sony, ficando na frente do Ipod que ficou com a segunda posição. Pesquisando sobre a história desse produto, podemos observar que seu sucesso deveu-se principalmente a visão de Akio Morita. Seu destino quando nasceu estava predeterminado para ser o herdeiro do negócio de sakê da família. Apesar disso, seu gosto pela música clássica ocidental e interesse pelas revistas de eletrônica acabaram por levá-lo a trilhar seu próprio caminho. Com muita determinação e coragem tornou-se um dos empresários mais importantes de nossa época.

Já em 1979 utilizou inovadoras formas de gestão e de marketing, que atualmente estão sendo bastante comentadas e discutidas. Devido ao orçamento de marketing reduzido, a campanha de lançamento do walkman se baseou em ações de relações públicas. Foram oferecidos aparelhos às principais celebridades da música, arte e desporto locais. As informações para a imprensa foram difundidas em cassetes, em vez de papel, e foram desenvolvidas ações de promoção nos principais parques de Tóquio. A originalidade das diversas iniciativas levadas a cabo conseguiu, de fato, conquistar a imprensa local e proporcionou à Sony uma extraordinária cobertura jornalística. Um verdadeiro case de marketing com ações de guerrilha, propaganda viral, PR Stunt, Buzz marketing, enfim todos esses termos criados hoje em dia para definir o que antes, era simplesmente propaganda feita com baixo custo mas de alto impacto para o público-alvo.

Apesar disso, no primeiro mês de vendas não foi vendido um único Walkman. Precisou-se esperar 3 meses para que as vendas explodissem e a produção inicial de 30 mil unidades desaparecem das lojas. A análise do insucesso inicial do walkman permitiu concluir que o segmento-alvo escolhido não era o mais correto. Quem estava a adquirir os walkman não eram os jovens, para quem toda a comunicação tinha sido dirigida, mas sim os yuppies (young urban professional - profissional jovem urbano). Perante esta constatação, Akio Morita optou por reposicionar rapidamente a publicidade do walkman para os yuppies, na esperança de atingir, por arrastamento, a generalidade dos jovens.

O fenômeno de vendas do walkman rapidamente chamou a atenção da concorrência, que começou a fazer aparelhos idênticos ao inovador produto da Sony. Em resposta, a empresa lançou o walkman ii, um aparelho ainda mais sofisticado cujo tamanho era de tal modo reduzido, que apenas ultrapassava ligeiramente as dimensões de um cassete. Foram também efetuadas melhorias no sistema de som, no design dos fones de ouvido e na duração das pilhas, preservando desta forma a liderança tecnológica no setor. A completa renovação do produto no breve espaço de um ano revelou a grande visão comercial de Morita, que rapidamente tornou obsoleta as ofertas da concorrência.

Tem-se ai outro conceito muito comentado hoje em dia: "O oceano azul".
Este representa todo setor que ainda não nasceu — o espaço de mercado desconhecido, ainda não maculado pela concorrência. Nele, a demanda é criada e não disputada. A Sony através da visão de seu fundador, tornou a concorrência irrelevante e criou um novo nicho de mercado.

Então qual a lição que podemos tirar disso? Para mim é a seguinte. Nem mesmo a bebida dos deuses tem um sabor tão especial quanto seguir seu próprio caminho. Campai.

9ª questão - O que é um tripalium?


Quando trabalhei no Japão uns 10 anos atrás como dekassegui fazendo salsichas, vivi um pouco da realidade de muitos brasileiros daqui. Em primeiro lugar não sabia ler nem conseguia me expressar direito na língua japonesa. No começo até coisas triviais como fazer compras no supermercado e cortar o cabelo eram um martírio. Sem ter uma boa fluência na comunicação com outras pessoas, por mais que me esforçasse nunca seria promovido a chefe de seção ou ganharia um cargo menos operacional.
Se o problema era esse, então por que não estudei japonês?
Para cumprir meu objetivo de voltar em um ano com a quantia necessária, em média trabalhei 12 horas por dia. Houve semanas que cheguei a trabalhar 16 horas todos dias. O trabalho embora não fosse muito pesado, exigia um grande esforço físico e não sobrava muito tempo para descansar. Quanto mais aprender japonês!!
Conheci pessoas aqui no Brasil com o mesmo problema. Por mais que saibam que é necessário estudar inglês e informática para melhorar o currículo, muitas vezes essas tarefas se tornam extremamente árduas. Acaba-se entrando num círculo vicioso, pois não são profissionais qualificados e nem possuem recursos de tempo e dinheiro para aumentar sua empregabilidade.
É nessas horas que lembramos da raiz da palavra "trabalho". Não deve ser por acaso que ela vem de "tripalium",
um instrumento romano de torturar escravos.

8ª questão - Quantas vezes você já usou remédio para gonorréia?

Eu já usei várias vezes. E tenho certeza que você também usa com bastante frequência. Duvida disso? Então vai me dizer que nunca usou Listerine para melhorar o hálito? A história desse produto começa no século XIX como um eficiente anti-séptico cirúrgico. Mais tarde foi vendido, na forma destilada, para limpar o chão e curar gonorréia.

Porém a grande sacada para seu sucesso foi na década de 20, com o reposicionamento
para uma solução contra a "halitose crônica" - então um obscuro termo médico para mau hálito. Os novos anúncios do Listerine mostravam jovens dos dois sexos, ansiosos para casar, mas que perdiam essa vontade diante do fétido hálito de seus parceiros. "Será que vou conseguir ser feliz com ele apesar disto?", perguntava-se uma mocinha casadoira.

Essa história está no livro Freakonomics que mostra como o Listerine promoveu mais a halitose bucal do que a higiene oral. Até então, não se convencionara achar o mau hálito uma catástrofe de tamanha grandeza, mas o Listerine produziu uma mudança.

O ponto que eu quero chegar é justamente esse. Observar como o comportamento das pessoas foi moldado e transformado através da propaganda. Dentro disso, podemos analisar a utilização de técnicas da teoria do behaviorismo na comunicação. Esta teoria da psicologia
parte do princípio, de que a conduta dos indivíduos é observável, mensurável e controlável. Uma de suas ferramentas para manipulação do comportamento é o reforço positivo (no caso, a mocinha vai conseguir casar se usar Listerine). A força da propaganda está justamente nessa associação da situação indesejada (não casar) com um problema tangível e passível de ser resolvido (mau-hálito). A leitura óbvia disso é de que com Listerine sua vida vai ser muito feliz. Extremamente simplista e até mesmo ingênuo. Mas ai vem a questão, isso dai deu retorno? Acredite ou não, em apenas 7 anos a receita da empresa subiu de U$ 115 mil para mais de U$ 8 milhões.

Hoje em dia, as propagandas e comunicação das empresas se tornaram bem mais sofisticadas e sutis. Apesar disso, será que ainda não somos facilmente manipulados? Tem tanta diferença assim entre comprar uma calça jeans de R$ 2.000,00 de griffe e usar Listerine? No fundo, eu acho que os dois servem para o mesmo motivo: se sentir mais seguro na frente dos outros.

Wednesday, April 04, 2007

7ª questão - O que designers, publicitários e traficantes de crack tem em comum?

Lendo o raciocínio do capítulo sobre os traficantes de crack no livro Freakonomics, entendi porque profissões como designer e publicitário são em média mal remuneradas. Analisando o tráfico de crack ela é a atividade mais perigosa nos EUA, as chances de morrer são de 1 em 4 e ainda o salário é de apenas U$ 3,30 a hora. Mesmo assim por que alguém iria escolher um emprego desses?
É a mesma razão que designers e publicitários se sujeitam a varar madrugadas, trabalhar sem ganhar hora extra e viver nas agências. Todos querem vencer em uma área extremamente competitiva, na qual se conseguir chegar ao topo, vai ganhar muito dinheiro fora o status, poder e reconhecimento que se obtém.
As regras são diretas:
- começar debaixo para chegar ao topo
- trabalhar duro e em longas jornadas em troca de salários inferiores a média
- demonstrar não apenas que está acima da média, mas que é espetacular
Alguns quando percebem que não vão chegar ao topo desistem. Outros insistem mais, quantos designers e publicitários com mais de 40 anos você conhece que ainda tem que varar a noite e ganham mal?
Eu desisti e acabei indo atrás de outros caminhos. Essa explicação do livro me deixou com a consciência mais tranquila, pois já estava achando que desisto das coisas fácil demais. Agora pelo menos tenho uma teoria para explicar porque deixei de trabalhar com criação.

Tuesday, April 03, 2007

6ª questão - É justo culpar apenas o indivíduo pela sua situação social?

Antes que me achem simplista ou adepto das técnicas de motivação para o sucesso pessoal, vou colocar minha análise sobre a comparação entre o taxista e o empresário que acabei fazendo. Hoje em dia, está muito na moda o discurso de que para se ter sucesso na vida, só depende exclusivamente de nossos próprios esforços. Assim para alcançar nossos objetivos, devemos ter foco, disciplina, fazer mais do que os outros, mudar hábitos e formas de pensar negativas, etc... É o discurso da meritrocacia onde o indivíduo é recompensado pelo seu próprio esforço. No fundo, tudo isso é uma simplificação das idéias centrais da teoria econômica liberal: como agente econômico livre, o homem é capaz de mudar suas circunstâncias e produzir riqueza.
Estudando economia comecei a ter mais noção do impacto que a política econômica do governo tem em cima das pessoas. Um aumento da taxa de juros, por exemplo, influencia todo o setor economicamente ativo de uma sociedade. Se a taxa de juros sobe, o consumo cai, a produção diminui e o país gera menos riquezas. Por mais que os empresários e trabalhadores queiram produzir ou trabalhar mais, a conjuntura econômica não incentiva nem estimula um crescimento de riquezas.
Dessa forma, pegando esses dois pontos de vista e analisando a situação do taxista, podemos dizer que uma parte é fruto de seu próprio esforço. A outra parte vem das condições e oportunidades que foram oferecidas para ele melhorar de vida. Quanto representa cada uma em sua situação é difícil de mensurar.
Antigamente eu era meio intolerante em relação a essa questão e achava que quem era pobre é porque não tinha se esforçado o suficiente. Hoje em dia, sei que existem casos bem diferentes uns dos outros, sendo injusto culpar apenas as pessoas por não progredirem na vida.
Torço para o taxista conseguir melhorar de vida e que aproveite o máximo possível as oportunidades que apareçam. Ele não é um coitado nem mais uma vítima da desigualdade social do país. É apenas um ser humano como outro qualquer, que luta por uma vida digna e em busca da felicidade. Como já disse o Dalai Lama, temos de desenvolver cada vez mais a compaixão pelas pessoas, pois no fundo somos todos muito parecidos.

Sunday, April 01, 2007

Dados sobre os taxistas

Continuando o assunto sobre os taxistas, encontrei algumas informações interessantes em outro blog: http://aumenta1ponto.blogspot.com

"Dados interessantes (valor científico igual a zero):
* um taxista costuma trabalhar entre 6 e 7 dias por semana, com uma média de 10 a 12 horas por dia
* a média rodada é de 150 Km/dia
* um taxista que possui carro e ponto fatura, em média, 4,5 mil reais por mês

Considerando a renda média mensal brasileira, R$ 4,5 mil é muita coisa. Tudo bem que, pra isso, ele precisa comprar o alvará e o carro, investimento total de R$ 50 mil. Mas se ele não tiver nada disso, pode simplesmente alugar um carro de frota, pelo o qual vai pagar uma diária entre R$ 60 e R$ 80. Nesse caso, a renda cai para cerca de R$ 2 mil. Mas ainda assim é bastante dinheiro para a média nacional."

Os dados que eu tenho conhecimento são um pouco diferentes. Os taxistas que eu conversei e que alugavam o carro da frota, tiravam em alguns dias apenas R$ 10,00 livres. Ou seja, praticamente trabalhavam apenas para ganhar o que comer. Quem possui alvará e carro, geralmente são aposentados que resolveram ganhar uma renda extra.

Provérbio africano fixado numa fábrica em Pequim

Todos os dias de manhã, na África, o antílope desperta.

Ele sabe que terá de correr mais rápido que o mais rápido dos leões para não ser morto.

Todos os dias, pela manhã, desperta o leão.

Ele sabe que terá de correr mais rápido que o antílope mais lento, para não morrer de fome.

Não interessa que bicho você é, se é leão ou antílope.

Quando amanhece, é melhor começar a correr.

5ª questão - O que diferencia um empresário de um taxista?

Ainda aproveitando a viagem para Natal, posso dizer que conheci um pouco mais sobre realidades que convivem tão próximas, mas são tão distantes ao mesmo tempo. Acredito que o principal fator de desigualdade social não é apenas a falta de oportunidade, mas também a forma de encarar a vida de cada um.
Conheci um empresário de lá que começou praticamente do zero, tendo hoje em dia duas empresas com faturamentos consideráveis. A foto acima é de um resort de sua construtora, oferecendo uma estrutura de hotel para se morar e uma vista deslumbrante do mar.
A diferença entre o taxista e o empresário é que um encarava tudo como dificuldade, enquanto o outro como oportunidade. Nem é preciso dizer quem se deu melhor e qual a postura, mas o importante é tirar lições de cada um. Como esse próprio empresário me falou: "Todo mundo tem algo a ensinar, por exemplo mesmo quem se envolveu com o crime pode dar conselhos para não se cometer os mesmos erros".

4ª questão - Qual a percepção que um taxista de Natal tem sobre embalagens?

Estive recentemente em Natal a convite de um cliente, participei de várias reuniões e conheci todo processo que faz parte de uma indústria do ramo de alimentos. Após o trabalho fiquei dois dias livres na cidade, onde pude fazer o que mais gosto: conhecer pessoas e um pouco da vida delas. Uma dessas pessoas foi um taxista da região no auge de seus 50 anos e com um FIAT UNO todo detonado. Esse senhor sempre viveu no Nordeste e possui dois filhos adolescentes. Uma de suas maiores alegrias era passar numa lanchonete e chegar em casa com um lanche para dar pros filhos. Por ai dá para ter noção da situação financeira vivida por ele, uma realidade muito pobre e sofrida como a maioria dos brasileiros. Dentro desse quadro totalmente diferente do que estou acostumado, cheguei e perguntei para ele qual sua opinião sobre embalagens nos supermercados. A resposta foi um tanto surpreendente para mim mas óbvia se eu vivesse a realidade dele. Ele me respondeu que não ia em supermercados, comprava o que precisava a granel. Respondendo então a pergunta do título, a percepção dele sobre embalagens é igual a uma Ferrari para mim. Somos atraídos pela beleza, mas não pensamos muito sobre o assunto pois não é algo importante em nossas vidas.